Março / 2022
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Muito embora medidas tenham estado presentes em determinados eventos de Eugen Sandow, dentre os inúmeros reveses com a antropometria no fisiculturismo, pode-se destacar que, durante a preparação para o Mister América de 1980, o monitoramento da composição corporal causou uma frustrante expectativa em Ray Mentzer (SCHWARZENEGGER, 2007). Somando a essas conjunturas, para De Sousa (2019), as posteriores tentativas, principalmente da parte de pesquisadores, de incrementar parâmetros antropométricos, não alcançaram a credibilidade da comunidade desse esporte.
Vale destacar que os meios antropométricos que foram utilizados no passado não se comparam com os recursos disponíveis hoje, sendo que, dentre as tentativas contemporâneas de resgatar a aplicação desse recurso no fisiculturismo, De Sousa (2020) recuperou e adaptou um cálculo que tende a contribuir bastante na compreensão do preenchimento muscular. Apesar de essa proposta não ter utilizado o cálculo que compensa a estrutura óssea (também há essa possibilidade), devido à intenção de se aproximar ao máximo da realidade vista, é possível avaliar tanto o perímetro bruto (já existente nas antigas literaturas), quanto o perímetro magro de determinados membros, em relação com as suas estruturas ósseas, destacando a hipertrofia, seja ela aguda ou crônica.
UM ACONTECIMENTO QUE MARCOU AS RETOMADAS DE RECURSOS ANTROPOMÉTRICOS NESSE ESPORTE
É fato que competições tendo ecléticas performances desportivas, incluindo exigências de um físico estético, utilizaram de sutis recursos antropométricos. Contudo, não planejavam aprimorar os critérios subjetivos predominantes há cerca de 100 anos no fisiculturismo.
Em dezembro de 2020, ocorreu o Champion, o mais prestigiado torneio do calendário BRAFF, sendo que nesse evento foi realizada uma intervenção antropométrica com o principal desígnio de retomar as tentativas de incrementar recursos objetivos nesse esporte.
No Champion, foi aplicado, com sucesso, um protótipo que, utilizando de recursos antropométricos, sem bastidores sombrios ou qualquer influência vergonhosa, literalmente define as performances de condicionamentos.
RECURSOS ANTROPOMÉTRICOS UTILIZADOS NO CHAMPION E EM TRABALHOS CIENTÍFICOS COM O FISICULTURISMO, BEM COMO AS DIFICULDADES NA APLICAÇÃO DE DETERMINADOS MÉTODOS E POSSÍVEIS LACUNAS A SEREM PREENCHIDAS
Esse marco no Champion foi alcançado com base na proposta de fracionamento da composição corporal em dois componentes, sendo que o fracionamento em cinco componentes – FCC5C, considerado a técnica mais completa até os dias atuais, e que exige maior perícia quando comparado aos demais meios, já tinha sido aplicado, meses antes do tradicional evento da BRAFF, em três estudos de caso que investigaram as categorias body fitness e wellness.
Devido a determinadas exigências como a coleta de 22 variáveis antropométricas (seis dobras cutâneas, seis diâmetros, sete perímetros e três medidas básicas) e que para a obtenção do nível 1 da ISAK é necessário o aprimoramento em um número inferior de variáveis, existe o conceito de ser o FCC5C um método complexo.
Dentre as vantagens disponibilizadas pelo método, encontram-se informações sobre os principais componentes da massa magra, como a massa muscular e a massa óssea. Sendo assim, ao acionar, com base nesses dados, o índice músculo/ósseo – IMO, propicia-se que a tomada de decisão da hipertrofia seja de acordo com a condição óssea.
Sabe-se que, com relação ao IMO, há um limite do aumento da massa muscular imposto pela estrutura óssea, sendo entendido que uma pequena estrutura não propiciará altos ganhos de músculos ou, caso contrário, que seria considerado desproporcional.
Vale destacar que o FCC5C tem sido relativamente pouco aplicado em experimentos científicos, existindo poucos parâmetros de referência, ausência essa que alcança o fisiculturismo, sendo potencializada em razão de que na amostra de culturistas que foi utilizada na dissertação de Deborah Kerr, ultrapassou-se o marco de 5% de diferença entre a soma das massas preditas e o valor obtido na balança.
Entretanto, entendemos como aceitável que essa modalidade venha a ser melhor investigada, até pelo fato de que no fisiculturismo, enquanto, para determinadas categorias, muito provavelmente não se ultrapasse a diferença entre massas de 5%, noutras é exigido acentuado desenvolvimento muscular, sendo a compreensão do IMO relevante numa condição em que há o que deduzimos como hipertrofia extrema e boatos de que marcas consideradas humanamente impossíveis já foram observadas.
POSSÍVEIS MARCAS A SEREM BATIDAS
Informalmente escuta-se que antropometristas que avaliaram fisiculturistas profissionais identificaram IMOs considerados até então como inalcançáveis, do tipo de 7,7kg de músculos para cada 1kg de osso. Entretanto esses dados não foram apresentados na literatura, resumindo-se a boatos que circulam na comunidade antropométrica.
Do mesmo modo há boatos que dizem existir no Brasil uma mulher de dimensões colossais, que ostenta as mais grossas coxas do país. Vale ressaltar que circulam entre canais da comunidade vídeos em que a citada desportista ostenta um físico extraordinário, aparentando uma desproporção de membros superiores que soa até como aceitável, ante o contraste, seja ele com a combinação do tórax e cintura, ou com a distribuição do volume nas pernas, coxas e glúteos de curvas acentuadas.
Abaixo um Print – prt do paper de novembro de 2020, em que comentamos na existência de todo marketing que envolve essa mulher
Fonte: Matéria de De Sousa, em 2020
SERÁ QUE EXISTE UMA OUTRA MULHER QUE VERDADEIRAMENTE OSTENTE ESSA MARCA?
Num dos depoimentos que foram analisados, a própria mulher entrevistada citou o nome de uma outra desportista que, provavelmente, para a mesma, tenha coxas mais grossas. Porém um dos entrevistadores salientou a questão da estatura, visto o fato de que a outra desportista seja bem mais alta do que a entrevistada. Independentemente da estatura, conforme mencionado no paper de novembro de 2020 da BRAFF, num caso do gênero seria fundamental identificar determinados índices, do tipo o crural – IC, sendo que provavelmente algumas marcas venham a comprometer ou contribuir na distribuição de determinada massa muscular, e assim reflitam na percepção ao considerar o conjunto. Devemos também destacar que, nessas condições (acionando o IC), mesmo tendo resultados favoráveis, a definição mais exata das coxas dessas duas mulheres seria alcançada pela razão transversal/longitudinal
DADOS INSUFICIENTES PARA PROPORCIONAR UMA MARCA A SER BATIDA
Na nossa investigação, foi encontrado em entrevistas com a desportista tida como a portadora das coxas mais espessas do país, que a mesma alcançou 74cm de coxa, numa estatura de 1m61cm. Porém, esses dados seriam insuficientes, levando em conta a necessidade da compreensão dos demais perímetros, como a combinação do tórax, cintura e glúteos, por exemplo, bem como as medidas do tecido subcutâneo e da estrutura óssea como o comprimento trocanter-tibial.
Na entrevista em que foram comentados esses dados, não detalharam o protocolo utilizado na medida da coxa que alcançou a marca de 74cm, sendo que há divergências entre os diversos protocolos em que, dependendo da morfologia da avaliada, das acentuadas curvas, uma única variável pode ser vista com resultados discordantes.
AQUELAS PREDISPOSTAS PARA LINEARIDADE OU ROBUSTEZ MÚSCULO-ESQUELÉTICA
Experimentos iniciais com amostras de competidoras de nível amador têm confirmado que as desportistas competem em categorias que condizem com suas predisposições genéticas, seja pela exigência de certa linearidade ou condição muscular.
Concernentemente a determinada condição muscular, experimentos já foram realizados, com o intuito de evidenciar a efetividade de determinados treinamentos de musculação. Um dos mais citados ocorreu nas dependências da Universidade Estadual do Colorado, precisamente no mês de maio de 1973. Foi realizado, com a supervisão do Dr Elliott Plese, um ensaio conhecido como “Experimento Colorado”. Tendo a finalidade de destacar os efeitos do HIT realizado com equipamentos Nautilus, a massa corporal do voluntário foi alterada, em um curto período, de 75,69kg com 13,8% de gordura para 96,23kg e ainda houve a perda de cerca de 8,13kg de gordura.
Há muitos rumores que tendem a justificar esses resultados, incluindo o fato de o voluntário ter sofrido um acidente e perdido, durante determinado período, uma expressiva massa corporal, sendo considerado por muitos que uma boa parte deste ganho está relacionada à recuperação do peso alcançado antes. Outros boatos estão relacionados a um suposto suporte laboratorial, com a administração de doses cavalares de esteroides anabolizantes (SILVA JR; MARQUES, 2009).
Independentemente se ocorreram essas insinuações em 1973, sabemos claramente (ao considerar o gênero feminino), pelas surpreendentes imagens expostas nas redes sociais, que no país há mulheres com considerável predisposição para ganhos musculares (que podem ser potencializados ante a interferência de conceituadas equipes multiprofissionais). Porém não há registros do monitoramento nessas condições.
O NOSSO PRÓXIMO PROJETO TERÁ UM DESÍGNIO ESPECIAL
Considerando que já há alguns anos, a grande mídia tem realizado campanhas de conscientização concernentes a importância da equipe multiprofissional que atua na reversão de complexos quadros de obesidade, o intuito primário deste paper será estimular que o mecanismo seja acionado exclusivamente no nosso âmbito, na esfera do fisiculturismo
ENTENDENDO O PROJETO DENOMINADO “A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOMETRIA NO FISICULTURISMO”, QUE É FRACIONADO EM TRÊS (3) OPÇÕES
É fato que no Brasil existem determinadas condições que podem ser vistas como extraordinárias, representadas por mulheres com um surpreendente desenvolvimento dos membros inferiores, mas que aparentam combinar-se com um certo desenvolvimento dos membros superiores e um desenhado tronco. Entretanto, esses estados ainda se resumem em depoimentos e especulações, pois não foram alcançados pela ciência desportiva, por publicações, sejam elas utilizando da antropometria ou de um outro recurso que investigue a morfologia humana e assim melhor norteie o segmento.
Sabendo que em pesquisas as quais tendem a acrescentar na literatura científica há o alcance de uma série de exigências específicas, o nosso intuito, com os papers que estão por vir, é de apenas tornar públicos os clubes, bem como toda a equipe técnica que monitora desportistas que ostentam genéticas beneficiadas e, assim, estimular, que o mecanismo científico seja acionado posteriormente.
A PROPOSTA PARA APRESENTAR AS MARCAS (AS CONQUISTAS) DAQUELES QUE ACOMPANHAM NOSSO TRABALHO – 1ª OPÇÃO – AS MUSAS DE DIMENSÕES COLOSSAIS
Em honra àqueles que acompanham o trabalho da BRAFF realizado principalmente no Rio de Janeiro, proporcionaremos um espaço que divulgará determinadas desportistas que conquistaram um expressivo desenvolvimento muscular, bem como o clube e a equipe técnica responsável.
Para esse fim, será necessário que se alcancem algumas exigências do tipo:
1) Que seja registrado em vídeo, além da apresentação do quarto de volta e poses compulsórias, uma avaliação antropométrica no perfil completo conforme as diretrizes do Manual de 2006 da International Society for the Advancement of Kinanthropometry – ISAK (LOPES; PETROSKI; RIBEIRO, 2018). O vídeo deve ser produzido em uma câmera com boa resolução e iluminação, num ponto que permita a completa visualização, tanto da avaliada, quanto do avaliador;
2) Essa matéria tratará do índice transversal/longitudinal. Por isso, além do vídeo da intervenção completa, requer-se que seja produzido um vídeo extra, com a câmera próxima do corpo da avaliada, no momento da medida do comprimento trocanter-tibial e da marcação e coleta da dobra cutânea e perimetria da coxa média;
3) A intervenção seja realizada por um antropometrista ISAK nível 2, 3 ou 4 (no Brasil só há um nível 4);
4) A intervenção deve ser realizada por meio da planilha disponibilizada gratuitamente no paper de outubro de 2020, a pasta “Digitação”, sendo que esta, contendo os dados coletados, deve ser enviada, bem como os registros em vídeos, para a diretoria da BRAFF. Vale considerar que os registros em vídeos serão exclusivos para a análise da intervenção (não serão disponibilizados publicamente);
5) Deve ser registrado uma foto ou um vídeo tendo, além da desportista, a apresentação da equipe técnica completa e antropometrista ISAK que realizou a intervenção*. É preciso que haja a descrição completa (nome e atuação) de cada participante, bem como o clube que realizou o trabalho. Esse registro se tornará público.
*Acreditamos que, caso a equipe técnica contrate a intervenção de um antropometrista acreditado, muito provavelmente este permanecerá atuante mesmo após a conclusão do programa, tamanho o benefício que trará na periodização.
2ª OPÇÃO – É POSSÍVEL ULTRAPASSAR 7,7KG DE MÚSCULO PARA CADA QUILOGRAMA DE OSSO?
Conforme já comentado, há boatos de que culturistas profissionais têm apresentado saldos sobre-humano. Porém gostaríamos de apresentar esses dados, bem como a competência de toda a equipe técnica. Deste modo, proporcionaremos um espaço para divulgar determinadas marcas e, assim, motivar que até outras instituições venham a se manifestar, favorecendo para que a antropometria seja de maior frequência nesse meio (a planilha utilizada é disponibilizada gratuitamente no paper de outubro/2020, será necessário, caso não tenham disponível, apenas contratar um antropometrista). O que importa é que o esporte cresça!!!
Para a participação será necessário:
1) Repetir as exigências destinadas para AS MUSAS DE DIMENSÕES COLOSSAIS, com exceção do registro extra do comprimento trocanter-tibial, demarcação e coleta da perimetria e dobra cutânea da coxa media.
3ª OPÇÃO – É POSSÍVEL MONITORAR UMA ASPIRANTE A MUSA FITNESS?
Apesar de existirem relatos de experientes coaches que, com suas percepções apuradas, identificaram níveis surpreendentes de respostas ao treinamento, a maioria desses depoimentos se resumem a medíocres insinuações ou a uma coleta de dados não suficientes para uma definição substancial do quadro.
Diante dessas circunstâncias, proporcionaremos que coaches que identificarem mulheres aspirantes a um lugar ao sol tenham um espaço destinado a expor o monitoramento desse quadro inicial (curto período de análises).
Para esse programa também será utilizada a planilha disponibilizada gratuitamente na matéria de outubro de 2020, proporcionando que as possíveis modificações morfológicas sejam monitoradas por relevantes recursos e, assim, muito provavelmente sejam ratificadas percepções apuradas para identificar talentos.
Dentre esses recursos encontra-se o que se localiza na pasta “Impressão 5”, que propicia monitorar as alterações na massa magra ou massa muscular – MM (devido à planilha estar automatizada, caso seja fracionada a composição corporal em quatro componentes), sejam elas vistas de modo relativo ou absoluto
Abaixo, um prt da pasta Impressão 5
Fonte: https://braffbr.com/um-brinde-a-todos-aqueles-que-verdadeiramente-amam-o-esporte/
O arquivo disponível na pasta “Impressão 4” possibilita monitorar as alterações nas dobras cutâneas, perimetria e a perimetria magra, em que evidenciará a hipertrofia ou a perda da massa muscular apendicular.
Abaixo, um prt da pasta Impressão 4
Na pasta “Anotações”, o arquivo possibilita comparar perímetros, seja na periodização, conforme as opções na célula “Y265”, ou entre variáveis do tipo diferença entre a perimetria da cintura e quadril.
Um prt da pasta Anotações
As exigências para participar da programação são as mesmas da proposta anterior, com o adicional de que sejam registradas todas intervenções antropométricas, e o preenchimento da planilha “Digitação” será informalmente, apenas durante cada avaliação, para gerar os resultados finais.
Os resultados finais de cada intervenção serão preenchidos na pasta “Créditos”, a partir da célula “B17117” apresentada abaixo.
EM BREVE PUBLICAREMOS UM NOVO PAPER COM AS DEVIDAS ORIENTAÇÕES PARA CADASTRO, COM O OBJETIVO DE SANAR DEMAIS DÚVIDAS E, ASSIM, INICIAREMOS TODA A PROGRAMAÇÃO.
Mensagem do Diretor Técnico-Científico da BRAFF
REFERÊNCIAS
DE SOUSA, T.B.C. Intervenção antropométrica, somatotípica e dermatoglífica num dos campeonatos da Federação Paraibana de culturismo, musculação e fitness. Coleção Pesquisa em Educação Física, v.18, n.01, p.75-84, 2019.
______. Razão transversal/longitudinal: uma proposta para melhor compreensão dos perímetros segmentares. BRAFF, Rio de Janeiro, nov. 2020. Disponível em: < https://braffbr.com/razao-transversal-longitudinal-uma-proposta-para-melhor-compreensao-dos-perimetros-segmentares/ >. Acesso em: 07 mar. 2022.
LOPES, A.L.; PETROSKI, C.A.; RIBEIRO, G.S. Antropometria aplicada à saúde e ao desempenho esportivo: uma abordagem a partir da metodologia ISAK. 2.ed. Porto Alegre: GEBEN, 2018.
SCHWARZENEGGER, A. Enciclopédia de fisiculturismo e musculação. Porto Alegre: Artmed, 2007.
SILVA JR, J.G.; MARQUES, F. Treinamento de Alta Intensidade (HIT) – Part II. In: Revista M&F. São Paulo: CNB Novaes. ano 14, n.77, p.106-108, 2009.
Thiago Batista Campos de Sousa
Faculdades Integradas de Patos (FIP)–Patos/PB
Diretor Técnico-Científico da Federação Paraibana de Culturismo, Musculação e Fitness (FPCM-F)–João Pessoa/PB
Diretor Técnico-Científico da Confederação Brasil Fisiculturismo e Fitness (BRAFF)–Rio de Janeiro/RJ