Outubro / 2021
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A ESTAGNAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE DETERMINADAS MODALIDADES DESPORTIVAS E AS POSSIBILIDADES DE AVANÇOS NO FISICULTURISMO
Dentre os maiores desafios ainda a serem superados na esfera desportiva, os critérios de julgamento de determinadas modalidades têm tido considerável destaque, uma vez que não acompanharam os surpreendentes avanços tecnológicos de modalidades paralelas e assim se resumem em análises subjetivas, muitas das vezes duvidosas e envoltas em polêmicas
O intuito deste paper é destacar fatos que comprometeram não só os desfechos de importantes competições, mas desgastantes temporadas de treinamento de atletas renomados, bem como servir-nos da abordagem para destacar os avanços das propostas direcionadas ao fisiculturismo, que tendem a contribuir no aprimoramento de um panorama até então considerado intransponível
O QUE JÁ OCORREU COM DETERMINADAS MODALIDADES DESPORTIVAS
A apresentação do futebol feminino nas semifinais das olimpíadas do Rio 2016 alcançou performances cinematográficas, nas quais em importantes ocasiões um único gol que aparentemente seria fácil (ante tanta perícia técnica) não foi alcançado. Muito provavelmente o dominante desempenho que não foi contundente, posteriormente, refletiu nas performances de pênaltis, e com o negativo desfecho da semifinal, subtende-se que as irreconhecíveis performances na disputa pelo bronze tenham sido decorrentes do efeito cascata (GE, 2016).
Já nos tempos contemporâneos, a estreia do surf em olimpíadas foi marcada por uma polêmica envolvendo um dos maiores surfistas da atualidade, o brasileiro Gabriel Medina, que, apesar de ter amenizado as performances durante a bateria, tamanha era a confiança na vitória sobre o japonês Kanoa Igarashi, foi ultrapassado, nos últimos minutos, por uma manobra do adversário, a qual surpreendentemente conseguiu superar todo o quadro de acrobacias do então favorito Medina.
As discórdias foram instantâneas, sendo ainda mais potencializadas pelas posteriores comparações entre performances, nas quais, dentre o desempenho apresentado nas sequências do brasileiro, é encontrada, no 7º minuto, uma manobra semelhante àquela utilizada pelo japonês. Porém Igarashi alcançou 9.44 pontos, enquanto Medina obteve apenas 8.44.
Deste modo, entendemos que semelhantemente ao caso dos jogos de 2016, que envolveram as performances na semifinal do futebol brasileiro feminino e assim refletiram no desempenho posterior, o surfista brasileiro sentiu, não pela soberania adversária ou por não ter sido contundente, mas pelas controvérsias do júri (BBC, 2021; LANCE, 2021).
Ainda tratando dos jogos olímpicos realizados no Japão em 2021, nas oitavas de finais do judô feminino, cat. até 70kg, apesar de os três ataques seguidos da oponente Russa terem justificado a penalização da consagrada atleta brasileira Mª Portela, de acordo com experientes treinadores que se manifestaram, a luta deveria ter sido encerrada antes, levando em conta que, com base nas cenas televisionadas, um nítido wazari não foi computado.
Essa sombria polêmica cercou aquele que foi considerado o combate mais longo da modalidade na edição de Tóquio e, independentemente se ocorreu uma percepção equivocada oriunda do campo visual da arbitragem, desfechos dessa magnitude comprometem substancialmente a credibilidade do sistema (GE, 2021).
OBS: Este paper apenas reporta as opiniões de internautas, fãs e peritos, registradas nos principais meios de comunicação. Sou consciente do inestimável valor de cada modalidade desportiva, sendo que o presente levantamento apenas discute determinados eventos que não devem ser ignorados, mas considerados, a fim de que o mecanismo seja modificado, evitando polêmicas dessas magnitudes.
A DIFÍCIL TAREFA DE INTERPRETAR O FISICULTURISMO
O fisiculturismo tem sido um esporte de difícil interpretação e, às vezes, conflitante. Contudo, nos tempos contemporâneos, as tentativas para incrementar meios que melhor norteiem os desfechos de competições têm sido relembradas.
Um dos recursos que até então era considerado insuficiente é a antropometria, sendo que, com o avanço de pesquisas que melhor manipularam suas variáveis, atualmente encontram-se papers que registraram a sua aplicação, com sucesso, nesse esporte.
Para entender os porquês das insuficientes tentativas anteriores, deve-se considerar que em determinadas épocas foram obtidos parâmetros valendo-se apenas de uma trena. Com o andamento das comparações, foi entendido que as condições ideais nesse esporte não se resumiriam apenas à perimetria, sendo necessário também considerar as estruturas ósseas, estatura, formatos dos músculos etc.
Com relação à utilização e adaptação de meios disponíveis a fim de um melhor entendimento nesse esporte, no paper de De Sousa (2020a) é apresentada uma tática que relaciona os dados perimétricos às estruturas longitudinais ósseas, proporcionando uma melhor compreensão dos perímetros apendiculares.
A ANTROPOMETRIA, UM RECURSO QUE AVANÇOU BASTANTE
Vale ressaltar que a antropometria alcançou um forte avanço no decorrer de sua história, não só nos métodos disponíveis, mas com os equipamentos utilizados, sendo que, no país, a parceria entre duas empresas (uma delas, com tecnologia estrangeira, fabrica relógios de alta precisão) proporcionou a confecção de um adipômetro capaz de mensurar (resultará no valor de 0,10mm) uma folha A4 (75g/m2), que possui uma sensibilidade maior do que a do tradicional Harpenden Inglês.
Abaixo, um Adipômetro de fabricação nacional
Fonte: Acervo do Pesquisador.
Capaz de mensurar uma folha de papel comum
Fonte: Acervo do Pesquisador.
AS “ANÁLISES” CONTEMPORÂNEAS QUE UTILIZARAM A “ANTROPOMETRIA”, PORÉM NÃO OBTIVERAM ÊXITO
É preciso compreender que para a adequada manipulação dessa ciência no país, requer-se a intervenção de antropometristas que, logicamente, possuam o alicerce da graduação e treinamento específico. Porém, quando ocorre o inverso, muito provavelmente nem os equipamentos adequados são utilizados (a exemplo das tão frequentes trenas de costura, em vez da trena específica, a antropométrica), quem dirá alcançar os acurados critérios de autenticidade científica.
Para ilustrar o tópico utilizaremos o seguinte questionamento: Como posso definir que determinada atleta de maior estatura é menos larga do que a outra, mesmo aparentando ser maior em comparação?
Para obter uma resposta contundente e honesta, também é preciso entender que apenas a utilização de uma única medida não seria suficiente, devendo haver a combinação de variáveis que propiciem a interpretação de determinados índices.
Um desses índices seria o acrômio-ilíaco, que utiliza as medidas biacromial e biiliocristal, sendo também proporcionada por este recurso a classificação em comparação com a população comum, o que subtende que nessa modalidade há uma lógica discrepância entre as duas medidas utilizadas (bem próximo das ideais condições do RCQ), o que desencadeará uma classificação além do usual.
Vale destacar que, para mensurar o diâmetro biacromial ou biiliocristal, requer-se um equipamento denominado de paquímetro ósseo grande, destinado a mensurar os grandes diâmetros e comprimentos ósseos.
Mesmo diante de uma classificação trapezoidal do índice acrômio-ilíaco, seria necessário definir se a de maior ou menor estatura é uma braquiesquélica, mesosquélica e/ou até uma macrosquélica, e ainda considerar outros recursos, como o índice de Brugsch e a RCEst. Apenas deste modo, ao utilizar a antropometria, entenderíamos o motivo pelo qual aparentemente determinada atleta não se destaca, ou se de fato os números não a destacam.
Abaixo um prt da planilha citada no paper de novembro, que possibilita acionar 11 índices de proporcionalidade
Fonte: Matéria de outubro de 2020 (DE SOUSA, 2020 apud DE SOUSA, 2020a).
Valendo-nos das inúmeras possibilidades de contradição, ainda, se uma atleta que de fato seja mais larga do que a de comparação for projetada num posicionamento desfavorável, apenas alguns detalhes terão condições de enfatizar a realidade numérica que, em honestas comparações, tendo posturas similares, seria confirmada ao apenas utilizar da observação.
AS CONCLUSÕES DE DE SOUSA (2020 apud DE SOUSA, 2021)
Na intervenção de De Sousa (2020 apud DE SOUSA, 2021) as competidoras apresentaram um condicionamento que proporcionou que tanto o percentual de adiposidade total quanto o somatório dos percentuais gordos segmentares fossem semelhantes às suas colocações na competição.
Apesar de existirem condições não compatíveis com essa realidade, como aquelas apresentadas pelas falsas magras, com esses iniciais achados houve maior entendimento das possibilidades de se mensurar o condicionamento em competição, sendo que para a real possibilidade de aplicação “não basta apenas parecer, deve-se de fato ser, ou não basta apenas ser, deve-se parecer”.
A PROPOSTA DE ANÁLISES QUANTITATIVAS NO FISICULTURISMO
No paper de dezembro na Confederação Brasil Fisiculturismo e Fitness – BRAFF, foi compartilhada publicamente a versão de teste de um protótipo (PAQFa) que foi aplicado com sucesso em um dos eventos chancelados pela Federação Paraibana de Culturismo, Musculação e Fitness – FPCM-F, o que proporcionou que o feito se repetisse no maior Campeonato da BRAFF, o Champion, o qual foi realizado no Rio de Janeiro, Tijuca Tênis Clube, no dia 05 de dezembro de 2020 (DE SOUSA, 2020b).
A CONTINUIDADE DO NOSSO PROJETO (PAQFb)
O real objetivo deste paper é tornar pública a versão posterior ao protótipo inicial que foi aplicado no Champion (PAQFa), a Proposta de Análise Quantitativas no Fisiculturismo (b) – PAQFb (que já foi perfeitamente aplicada num dos eventos orquestrados pela FPCM-F). Com base no somatório de determinadas dobras cutâneas – ∑DC (também há a alternativa no software, em que cada somatório é relativizado pela variável estatura), se torna possível identificar, numericamente, as performances de cada pose compulsória.
Abaixo, um prt da versão, o qual possibilita saber quais atletas dominaram o maior número de poses compulsórias, bem como as colocações nessas condições
Fonte: Acervo do Pesquisador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em dezembro de 2020, com a divulgação da PAQFa, alcançamos um marco nesse esporte, uma vez que, utilizando uma base de determinados achados da literatura científica, foi possibilitado quantificar as performances do condicionamento na subdivisão de um dos principais campeonatos cariocas.
Com a presente divulgação da PAQFb, utilizando um maior cabedal de recursos antropométricos, corroboramos com as propostas de outrora, de modo que possibilitamos que sejam definidas as colocações considerando todos os posicionamentos de análises nesse esporte.
MENSAGEM DO DIRETOR TÉCNICO-CIENTÍFICO DA BRAFF
REFERÊNCIAS
BBC. Medina roubado? o que disseram atletas, comentaristas e torcedores sobre eliminação no surfe olímpico. 2021. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-57987041 >. Acesso em: 07 out. 2021.
DE SOUSA, T.B.C. Razão transversal/longitudinal: uma proposta para melhor compreensão dos perímetros segmentares. BRAFF, Rio de Janeiro, nov. 2020a. Disponível em: < https://brasilfisiculturismo.com.br/razao-transversal-longitudinal/ >. Acesso em: 07 out. 2021.
______ . A influência dos números num mundo subjetivo: a proposta de análises quantitativas no fisiculturismo. BRAFF, Rio de Janeiro, dez. 2020b. Disponível em: < https://brasilfisiculturismo.com.br/analises-quantitativas/ >. Acesso em: 07 out. 2021.
______ . Em tudo na vida, é preciso o primeiro passo. BRAFF, Rio de Janeiro, fev. 2021. Disponível em: < https://brasilfisiculturismo.com.br/em-tudo-na-vida-e-preciso-o-primeiro-passo/ >. Acesso em: 07 out. 2021.
GE. Fim do Sonho: brasil perde nos pênaltis para a suécia e vai disputar o bronze. 2016. Disponível em: < http://ge.globo.com/rj/olimpiadas/jogo/16-08-2016/semifinal-feminino-brasil-suecia/ >. Acesso em: 07 out. 2021.
______ . Maria Portela leva punição e é eliminada das Olimpíadas em luta polêmica. 2021. Disponível em: < https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/maria-portela-leva-punicao-e-e-eliminada-da-olimpiada-em-luta-polemica.ghtml >. Acesso em: 07 out. 2021.
LANCE. Foi Roubado? especialistas analisam manobras semelhantes de gabriel medina e igarashi; compare em vídeo. 2021. Disponível em: < https://www.lance.com.br/fora-de-campo/foi-roubado-especialistas-analisam-manobras-semelhantes-gabriel-medina-igarashi-compare-video.html >. Acesso em: 07 out. 2021.
Thiago Batista Campos de Sousa
Faculdades Integradas de Patos (FIP) – Patos/PB
Diretor Técnico-Científico da Federação Paraibana de Culturismo, Musculação e Fitness (FPCM-F) – João Pessoa/PB
Diretor Técnico-Científico da Confederação Brasil Fisiculturismo e Fitness (BRAFF) – Rio de Janeiro/RJ